Para Mães e Pais

Deixar ou não deixar o bebê chorando para dormir?

23 de março de 2017

Duvido que alguma mãe bem ativa nas redes sociais com foco em perfis maternos não tenha visto a polêmica sobre o programa Bons Sonhos, da GNT. Eu não cheguei a ver o programa – que pelo que entendi é novo na programação do canal e traz dicas de uma especialista em sono do bebê. O que eu vi foi um vídeo que o GNT colocou no Facebook e foi compartilhado por várias amigas indignadas; nele, a especialista fala sobre algumas técnicas para ajudar o bebê a dormir, incluindo deixar o bebê chorando (você pode ver o vídeo completo aqui).

Eu sou mãe há mais de oito anos e da minha primeira filha para a segunda, eu mudei muitas coisas e muitos conceitos. Com a mais velha, eu realmente deixei chorar algumas noites, na medida do que eu consegui. Nunca segui o método à risca e nem deixei vários dias seguidos (por muito tempo) como é sugerido. Mas deixei algumas vezes sim, por certos períodos de tempo e era realmente pelo meu estresse e pela minha falta da capacidade no momento de lidar com aquela criança não queria dormir. No final das contas, ela aprendeu a dormir no meu colo até ter cerca de 1 ano – quando eu decidi que ela dormiria sozinha do berço. Nessa fase, tivemos um pouco de estresse, ainda que eu não a deixasse sozinha.

Com a Ana Júlia, eu decidi que dormiria no berço desde os primeiros dias. Novamente, não repeti nenhuma técnica de livro ou especialista algum. Eu pegava no colo quando queria, fazia dormir nos braços quando estava a fim e insistia para que dormisse no berço, sempre que possível. Rolou algum choro? Rolou! Não me lembro de ter deixado a Ana sozinha em momentos de choro, mas não me surpreendo se alguém falar para mim que eu deixei. Mas sei que, se deixei, foi bem menos.

Eu não curto muito a ideia de deixar a criança chorando no berço sozinha por horas a fio, por dias seguidos, até que ela finalmente se cale. Não sou especialista, mas a lógica me leva a crer que a criança vai ser condicionada; sem que isso signifique sucesso necessariamente. Por outro lado, acho muito imaturo de nossa parte (me incluo nesse grupo) ficar discutindo esse assunto com frases do tipo “estudos dizem que não pode deixar  a criança chorar”. Repito: não estou falando que se deve deixar a criança chorar. Nem estou falando que não se deve deixar a criança chorar.

Eu não sou especialista em metodologia científica. O que eu leio na internet, em blogs, sites e revistas não são necessariamente ciência – ainda que sejam estudos produzidos em Harvard. A gente é enganado constantemente pelos tais “estudos e pesquisas” que são feitos de qualquer forma e não querem dizer absolutamente nada. Sendo assim, se a gente não entende de fato de pesquisa científica, não vamos usar esse argumento para discutir e rebater. Principalmente porque, pasme: também há estudos que indicam que deixar o bebê o chorar não é maléfico e é ótimo para ensinar a dormir.

Como falei, não vi o programa. Acho que se o canal for responsável, eles irão mostrar outras técnicas e ouvirão outros especialistas falando sobre outros métodos. Mas o que mais me incomoda são dois pontos em especial:

Demonizar qualquer método que não seja o que você gosta

Quando eu quis que minhas filhas dormissem no berço, eu me apeguei no estudo que dizia que dormir na cama aumentava o risco de morte súbita. A gente sempre vai se apegar aos estudos que nos interessam, se deixar convencer pelos argumentos que nos fazem bem. E ok! Isso vai legitimar a nossa opinião e as nossas escolhas. Mas isso se torna péssimo quando você começa a demonizar tudo o que é diferente de você. Eu nunca, NUNCA, vou chegar para uma mãe que compartilha cama e falar dos estudos que dizem sobre o aumento de risco de morte súbita. Porque também há os estudos que rebatem isso, mas sobre esses eu não quis ler, certo?! Afinal, não eram do meu interesse…

O medo do choro

A gente vive numa sociedade em que há um medo absurdo de que a criança chore. Gente, bebês não sabem falar. Bebês choram. Eles se comunicam assim. Eles estão frustrados e a gente precisa oferecer suporte para essa frustração, ainda que isso não signifique que o choro vai cessar. Recém-nascidos precisam, sim, ter suas necessidades supridas – que são comunicadas através do choro. Mas com três meses, a minha filha chorava porque o bouncer não estava tremendo porque tinha acabado a pilha. Com cinco meses, ela chorava porque eu não deixava ela colocar a mão na tomada. Com um mês, ela chorava porque ela não queria tomar banho. Mas não importa, eu preciso – com amor, carinho, apoio, suporte, presença – ensinar que as coisas não são do jeito que ela quer.

Às vezes, todo esse cuidado vai fazer a criança parar de chorar; às vezes, não vai ter efeito imediato. Sei que esse é um assunto muito polêmico e controverso, mas eu não consigo entender porque esse medo tão grande de choro! Eu entendi isso definitivamente quando a minha filha mais velha tinha 4 meses de idade. Ela só dormia no colo com a gente andando. E eu decidi que ia mudar isso porque estava ficando muito complicado manter esse hábito. Por isso, comecei a fazê-la dormir no meu colo, mas sentada. Ela chorava desesperadoramente, como se eu tivesse a abandonado pelada no frio. Ela estava no meu colo, acalentada, comigo cantando ou conversando com ela. E ainda assim chorava loucamente até dormir. Não faltou amor, nem carinho, nem compreensão, nem presença… e mesmo assim teve choro!

Opinião do especialista

A especialista sobre sono Fernanda Braga, da MomMe Sleep Company, falou sobre o tema “deixar chorar” em uma entrevista que fiz há algum tempo com ela (que ainda não tinha virado post). Achei que valia a pena reunir o que ela me falou aqui:

“Deixar chorar faz mal? Eu não sei te dar uma resposta certa, se faz mal ou não. Existem estudos que provam os dois. Então, não cabe a mim falar que faz mal ou não; o que importa é o que cada mãe prefere e escolhe. Tem pai e tem mãe que chegam a um nível de cansaço tão grande que querem a solução imediata.

Eu particularmente não gosto desta técnica. Da maneira que eu acredito e sigo pode ser, sim, que a criança chore durante o processo de aprender a dormir porque é a maneira que ela tem de se comunicar. E é a partir do choro que ela fala, por exemplo, “eu estou acostumado a dormir mamando, por que você vai mudar isso agora?”.

O choro é a maneira que a criança tem de comunicar sua frustração. Mas ao mesmo tempo acredito que é super importante a criança ter o suporte do pais. Uma criança que tem suas necessidades atendidas é muito mais segura. Eu sou a favor de ter o pai e a mãe do lado o tempo inteiro. Até para passar para essa criança: ‘Eu sei que você está frustrado, as coisas não acontecem do jeito que você quer, mas estou aqui do seu lado’. E ao ver o pai e a mãe ao lado faz com que  essa criança fique mais calma. Mas é algo bem delicado porque vai de preferência de família e também de consultora.

O modo que eu trabalho é fazendo um estudo mais a fundo. Acredito que o ato de dormir é um ato de fé, é ter a certeza que tudo ao seu redor está bem. Só assim conseguimos fechar os olhos e dormir. É se entregar. Quando a gente está nervoso, ansioso, a gente não dorme. Então por que você quer esperar que um bebê pequenininho vai dormir?

Na minha opinião, quando você larga um bebê fechado num quarto, ele vai ficar inseguro e vai ser difícil dormir. O que eu quero passar para essa criança é um suporte. Não existe certo ou errado. Cada um faz o que tem que fazer. Tudo está certo, tudo está errado. Vai de acordo com o que a família decide e com o que a família acredita. Cada família tem sua preferência.”

deixar o bebê chorando

A Fernanda é consultora de sono online (Brasil e EUA) e sempre participa do blog com informações relevantes para pais e mães. Você pode acompanhá-la pelo:
Site
 www.mommesleepcompany.com
Instagram www.instagram.com/mommesleepcompany
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Quem Sou

Sou Melina Pockrandt Robaina, filha de Deus, jornalista e mãe da Manuela (6 anos) e da Ana Júlia (1 ano)

Eu sou Melina, mas pode me chamar de Mel. Amo escrever, amo meu marido, amo minhas três filhas e, acima de tudo, amo Jesus. Moramos na Pensilvânia, nos EUA, e, sempre que consigo, gosto de falar sobre minhas experiências, aprendizados e desafios seja na maternidade, na vida cristã ou como imigrante.

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