Lá em Casa

Intervalo comercial, eu te odeio!

31 de maio de 2013

Eu já contei aqui no blog sobre a minha dificuldade que o consumismo representa na criação da Manuela (4 anos). É muito complicado: ela simplesmente pede TUDO, seja porque os outros têm ou porque – é claro – viu na televisão. Contei que ela já me pediu até os produtos de limpeza cuja propaganda passa no intervalo do Discovery Kids. “Mãe, eu quero um Pato Gel Adesivo”, “Mãe, compra aquele rosa que tira manchas das roupas”. Nessa última semana, ela pediu para ir nas Lojas Americanas comprar ovo de páscoa e também na Havan, “porque é a loja mais completa da cidade”. Mereço?

Eu estava até conversando com a minha colega, que propaganda devia ter censura ou skip automático nos canais infantis porque as crianças não têm o menor filtro. No outro post, uma leitora do blog deixou um comentário bem legal falando que o maior problema é que, para as crianças, o que passa no comercial é tão legal quanto o que ela vê no programa, o produto é tão desejável quanto o desenho animado.

E realmente, faz todo sentido. A Manuela várias vezes já me pediu o cavalo mágico que voa pelo céu ou ursinho de pelúcia que se mexe e fala sozinho. Só que como é apenas fantasia, história dos desenhos, eu simplesmente explico que não existe e ponto. Mas a Baby Alive, o laptop da Galinha Pintadinha, o Vanish e tantos outros produtos dos comerciais existem… e ela também pede!

Enfim, entre trancos e barrancos, estou tentando ensinar a Manuela. Muitas vezes, é com paciência; mas – confesso – que tantas outras, é pela briga mesmo. “Manuela, se você continuar me pedindo as coisas, eu vou proibir você de ver televisão” ou “A gente vai comprar um presente para o seu colega, não é para me pedir nada”. E foi numa dessas, que ela me destruiu. Ela olhou para mim e com o coração sincero falou: “Mamãe, eu sinto muito, mas eu queria muito aquele brinquedo que eu vi”. Aaaaaai, que dó, que dó, que dó!

Na verdade mesmo, o maior problema sou eu, que quero desesperadamente dar tudo o que ela quer. Me julguem o quanto vocês quiserem, mas eu quero dar. Mesmo sabendo que ela vai parar de brincar em menos de seis meses, mesmo sabendo que ela vai pedir uma coisa nova daqui a pouco, mesmo sabendo que o que eu dou não é mais importante do que eu sou…

Enfim, eu sei de todas as coisas e é por isso que não dou tudo o que ela pede. Mas não falta vontade. E como as datas especiais dela são todas no final do ano (dia das crianças, natal e aniversário), eu vivo tentando achar motivos para dar presentes em outras ocasiões. Mas eu sei que tenho que parar com isso…

Além da consciência dos problemas que ela terá no futuro se for uma criança mimada (e no presente também), há um outro aspecto que tem me ajudado bastante a “me segurar” antes de dar coisas para ela (e isso inclui pequenos presentes, como o Kinder Ovo toda vez que vamos no mercado…): a capacidade de adiar recompensas.

Fiz uma reportagem para a revista de Gestão Educacional sobre a tal da capacidade de adiar recompensas, que é algo que todo ser humano adulto já tem desenvolvida (muito ou pouco). Ou seja, sabemos esperar pelas coisas e sabemos que há um processo para se ter algo. Um exemplo básico, entendemos que o salário é resultado do trabalho. Em contrapartida, a maioria de nós não sabe esperar para  ter bens de consumo. Em vez de pouparmos, fazemos financiamento e parcelamos para ter as coisas na hora. Ou seja, a capacidade de adiar recompensas não foi bem desenvolvida.

Escrevendo a matéria, fiz entrevistas com diversos profissionais, entre eles, neurocientistas. E foi muito interessante porque eles me explicaram que, na infância, o cérebro da crianças está passando por muitas transformações e, de forma muito rápida, está aprendendo os padrões que deverá reproduzir. Ele se modifica de acordo com as experiências da pessoa e aprende por meio do exercício. “Durante estas experiências, sinapses (conexões nervosas cerebrais) são criadas e fortalecidas pela repetição. Caso estas sinapses não sejam estimuladas a se fortalecerem por repetidas vezes, pelas experiências, serão eliminadas. Assim como os músculos se enfraquecem pela falta de exercícios”, explica a psicopedagoga Norita Dastre.

Quando ensinamos que é preciso esperar para receber algo ou que as coisas não vêm do nada, mas como resultado de outra ação, o cérebro da criança está aprendendo a fazer determinadas sinapses, que a ajudarão a ter paciência e autocontrole no futuro.

Dê uma lida no primeiro parágrafo da matéria e veja se não é algo que queremos que nossos filhos aprendam:

A habilidade de controlar os impulsos com o intuito de obter adiante alguma vantagem ou objetivo desejado. Assim é definida a capacidade de adiar recompensas, atributo exclusivo dos seres humanos e componente fundamental da inteligência emocional. Segundo Norita Dastre, psicopedagoga e pedagoga com extensão em Neurociências da Aprendizagem, essa habilidade faz com que o indivíduo saiba aguardar o tempo adequado para ser recompensado por suas ações ou seus comportamentos, seja no âmbito familiar, social, profissional ou acadêmico.

“Podemos perceber já em crianças bem pequenas a baixa tolerância à frustração por não obterem instantaneamente aquilo que desejam. Essa incapacidade de aguardar o tempo certo para ter o que se quer está se tornando um grande problema social, e a mídia tem colaborado demasiadamente para isto”, considera. (A matéria na íntegra (com algumas dicas dos especialistas) está disponível aqui nesse link).

Enfim, vou me esforçando para ensinar a Manuela, mas principalmente a educar a mim mesma nesse processo…

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Quem sou

Sou Melina Pockrandt Robaina, filha de Deus, jornalista e mãe da Manuela (6 anos) e da Ana Júlia (1 ano)

Eu sou Melina, mas pode me chamar de Mel. Amo escrever, amo meu marido, amo minhas três filhas e, acima de tudo, amo Jesus. Moramos na Pensilvânia, nos EUA, e, sempre que consigo, gosto de falar sobre minhas experiências, aprendizados e desafios seja na maternidade, na vida cristã ou como imigrante.

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