Para Mães e Pais filhos chatos déficit de atenção na infância

Quando o filho não é o centro da família

24 de setembro de 2016

Esta matéria é da minha autoria, mas foi produzida e publicada originalmente na revista LER&CIA, publicação do Grupo Livrarias Curitiba.

Você está no shopping e seu filho se joga no chão porque você disse que ele não pode levar para casa a bandeja do restaurante no qual vocês almoçaram – aquele almoço em que ele só quis comer as batatas e rejeitou todos os outros alimentos do prato. Depois de 20 minutos de negociação, com todos os olhos voltados para a criança chorando – ou melhor, gritando – você desiste, pega no colo e tenta chegar o mais rápido no estacionamento, carregando aquela cena de birra nos braços. No caminho, vê na vitrine de uma livraria uma capa que parece brilhar: “Crianças francesas não fazem manha”.

Dá para entender por que o livro de Pamela Druckerman, lançado em 2013, não demorou para chegar às listas de mais vendidos. O título é uma verdadeira resposta ao desespero de muitas mães em todo o mundo. Mas, na verdade, traz uma visão de criação de filhos muito parecida com que Tracy Hogg, conhecida como a “encantadora de bebês”, já promovia no final da década de 1990. Em essência, as teorias têm a mesma premissa: os filhos não são o centro da vida da família – e nem podem ser.

Melinda Blau, jornalista e coautora, com Tracy, dos livros da série Encantadora de bebês, esteve no Brasil em julho para o Seminário Internacional de Mães. Em entrevista, ela afirmou que um dos maiores desafios é compreender que as crianças precisam dos pais, mas não toda hora. “As famílias precisam viver menos centrada nas crianças. Eu imploro! Precisamos criar filhos que estejam bem consigo mesmos e saibam se entreter sozinhos. Eles precisam da sua atenção e do seu tempo, mas não 24 horas por dia.”

A ideia, obviamente, não é abandonar um bebê aos seus próprios cuidados, mas acolhê-lo como parte da família. Ele deve ser inserido, aos poucos e à medida de sua capacidade, na rotina da casa e não ditar como será essa rotina. Pamela Druckerman conta que, quando engravidou e estava buscando por mais informações, notou que a cultura parental nos Estados Unidos caminhava em direção oposta a isso. “O mais comum era o que se chamou de helicopter parenting [pais helicópteros], que estão o tempo todo em cima de seus filhos, buscando estimulá-los, supri-los, fazê-los felizes, levá-los a mil e uma atividades.”

Como estava grávida na França e decidiu que não seria como os pais americanos, Pamela resolveu observar os franceses e suas técnicas de criação de filhos e confessa que se surpreendeu. “Foi muito difícil compreender a maneira francesa de ser mãe porque as mulheres não estão falando o tempo todo sobre seus filhos. E quando questionamos como ela conseguiu fazer a criança dormir a noite toda, por exemplo, a mãe francesa tem dificuldades de explicar porque é algo completamente natural”, conta.

Isso porque, segundo Pamela, uma das premissas da maternidade na França é entender que o bebê é um ser inteligente, racional e entende mais do que podemos imaginar. Nesse cenário, ele chega à família com a expectativa de que será inserido na rotina da casa e não o contrário – a casa seguindo a rotina da criança.

A mulher retoma a sua vida profissional; existe hora para as crianças irem para a cama para que o casal possa cultivar seu tempo a dois; o quarto do casal é um ambiente que os filhos devem respeitar; as refeições da família não são alteradas para satisfazer o gosto da criança; os pais dizem “espere” e “não” para os seus filhos; “olá” e “tchau” acompanham o “por favor” e “obrigado” na lista de palavras mágicas. “As crianças entendem que elas não são as únicas pessoas do mundo e aprendem a esperar”, salienta Pamela.

Esta é exatamente a mesma visão disseminada por Tracy Hogg e Melinda Blau nos livros da série Encantadora de bebês. A importância de que a criança faça parte de um todo é tão importante que, este ano, Melinda lançou o livro A encantadora de famílias. O livro traz informações e teorias construídas em conjunto com Tracy antes de sua morte em 2004. “Desde o começo, nós focamos na importância de não deixar o bebê se tornar o rei da família”, afirma Melinda.

O lançamento fala sobre a importância de compreender a família como um todo e envolver cada membro – pai, mães, crianças – no gerenciamento e tarefas do lar. “Na casa que é focada na família – e não nos filhos –, todos cooperam e têm um papel importante. A partir do momento que a criança já pode fazer algo, ela deve receber uma responsabilidade. E eles adoram ajudar. Sentem-se úteis e satisfeitos”, comenta.

Mas entender a autonomia das crianças é algo que precisa ser cultivado pelos pais desde o nascimento. “Na família que é centrada nos filhos, nunca ocorreu à mãe a ideia de dividir responsabilidades domésticas com as crianças. Mas não podemos subestimar a capacidade deles de ajudá-los e nem eximi-los desta responsabilidade. Assim como não podemos subestimar a capacidade de um bebê em esperar e aprender uma rotina”, salienta Melinda.

Bebê: um ser inteligente
Uma das grandes premissas das técnicas discutidas pelas autoras é de que o bebê é um ser inteligente e capaz de aprender. Buscar inserir a criança em uma rotina de sono, estimulá-lo a brincar sozinho e fazê-lo esperar quando necessário são atitudes que mostram consideração e respeito pela capacidade e inteligência da criança.

Ao contrário do que muitos pensam, a ideia de “deixar o bebê chorar para se acalmar sozinho” não é algo sugerido de forma arbitrária em nenhum dos livros. Pamela ressalta que os franceses não acreditam em deixar o bebê chorando por muito tempo, mas compreendem claramente que nem sempre precisa ser atendido imediatamente. Para a encantadora de bebês, o choro da criança também precisa ser compreendido pelos pais. “Bebês choram porque são bebês”, aponta Melinda. É preciso entender e fornecer o que eles realmente precisam e não agir na ansiedade.

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Quem sou

Sou Melina Pockrandt Robaina, filha de Deus, jornalista e mãe da Manuela (6 anos) e da Ana Júlia (1 ano)

Eu sou Melina, mas pode me chamar de Mel. Amo escrever, amo meu marido, amo minhas três filhas e, acima de tudo, amo Jesus. Moramos na Pensilvânia, nos EUA, e, sempre que consigo, gosto de falar sobre minhas experiências, aprendizados e desafios seja na maternidade, na vida cristã ou como imigrante.

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