Já contei aqui no blog que, em julho, eu tive o prazer de participar do Seminário de Mães, em Belo Horizonte. Uma das palestrantes foi Pamela Druckerman, autora do Crianças francesas não fazem manha. Eu não li o livro, mas me disseram que a palestra dela foi bem focada no conteúdo da obra e posso dizer que me identifico muito com as mães francesas. Na verdade, já tenho em casa (desde a época da Manuela) muitas das atitudes que a autora notou sobre a criação de filhos na França. Sei que muitas pessoas não concordam, mas para nós funciona muito bem, obrigada!
Para quem não leu o livro, vou contextualizar. A Pamela é norte-americana e morava na França quando engravidou. Com a herança cultural dos EUA, saiu descontrolada para comprar mil e um livros sobre criação de filhos e se informar de todas as formas que pudesse. Nesse meio tempo, ela começou a reparar mais nas crianças da França e notou que elas eram muito educadas e as mães eram mulheres muito tranquilas (principalmente quando ela comparava com as americanas).
Então, ela conversou com o marido e disse que achava interessante aprender com as mulheres francesas sobre as técnicas de educação de filhos, mas esbarrou em um problema: “as francesas não ficam falando sobre filhos o tempo todo. Elas não falam sobre esse assunto o tempo todo. E quando você pergunta sobre como elas conseguiram fazer algo com as crianças (exemplo: fazer o bebê dormir a noite toda), elas simplesmente não sabem explicar. É tão natural que elas não têm um método”, conta Pamela.
E esse acho que é o primeiro ponto que é tão forte na cultura francesa e, sob o risco de levar pedradas, eu considero sensacional: os filhos não são o centro da vida das mulheres. As mães francesas continuam vivendo suas vidas além da maternidade. Não se questiona, por exemplo, se uma mulher vai voltar ao trabalho depois da licença-maternidade, é algo óbvio, pois o bebê não tem o poder de mudar a este ponto a vida do casal. “É senso comum: as mães também são mulheres que têm direito ao prazer”, comenta Pamela.
Ela exemplificou falando sobre revista de maternidade abordando alimentação saudável na gravidez. Nos EUA, o foco seria “coma saudável para ajudar no desenvolvimento do bebê”. Na França, o foco seria “coma para o seu prazer, para você se sentir bem, o que você pode comer que é gostoso e não vai te deixar se sentindo mal”.
Outro aspecto importante é que os franceses têm convicção de que o bebê é um ser inteligente, que tem capacidade de aprender e entendem mais do que podemos imaginar. Do ponto de vista prático, isso significa que é possível, sim, ensinar um bebê a ter rotina, a dormir e a ser inserido na rotina da família. “As francesas não têm uma técnica – conjunto de regras – de criação de filhos. Elas observam seus bebês e vão suprindo as suas necessidades. Nisso também sabem notar quando o bebê não precisa delas. Ele pode sim se entreter sozinho.”
Esta questão de respeitar o tempo que o bebê está sozinho também é válido para as crianças mais velhas. Se seu filho está entretido sozinho, seja com o móbile do berço ou com um jogo de quebra-cabeças, respeite-o, deixe-o, não interrompa.
Em relação ao sono, Pamela avalia que os franceses desvendaram a ciência do sono porque se um bebê, com 4 meses, ainda não dorme a noite toda, os pais ficam preocupados. “Os franceses não acreditam em deixar o bebê chorando sozinho até se acalmar, mas eles permitem que a criança faça a união dos ciclos do sono. Isso significa que, muitas vezes, o bebê chora de madrugada porque acorda (como todos nós fazemos) e ainda não sabe voltar a dormir, mas eles dão um tempo antes de sair correndo pegá-lo e a criança aprende a adormecer novamente.”
As crianças francesas também comem bem e isso é resultado de uma relação com a alimentação baseada em regras claras. Por exemplo: a criança tem horário para comer e não faz lanches fora de hora, elas não têm comidinhas especiais “de criança”, elas começam as refeições pelos vegetais e mesmo que não gostem de um alimento, têm ao menos que provar.
Uma coisa sobre a qual eu nunca tinha pensado é a respeito das palavras mágicas. Além de por favor, obrigado e desculpa, os franceses incluem na lista “oi” e “tchau”. “As crianças devem cumprimentar as pessoas para saberem que elas não são únicas no mundo”, explica Pamela. Achei isso muito bacana.
– Crianças aprendem a lidar com a frustração: elas aprendem a esperar, serem pacientes e a se distraírem sozinhos.
– Há respeito mútuo: crianças não interrompem os adultos, mas os adultos também não interrompem as crianças.
– Há comunicação e liberdade: os pais conversam com seus filhos, explicam o que deve ser explicado, falam “não”, mas também falam “sim” sempre que possível.
– Crianças têm autonomia: os pais ajudam os filhos, mas deixam que as crianças façam sozinhas tudo que está ao seu alcance. Dão tarefas diversas, estimulando a responsabilidade.
– O casal tem seu espaço e lugar prioritário: respeita-se o quarto do casal como um lugar apenas de adultos e também o horário para ir para cama é sagrado, pois após ele marido e mulher investem no seu relacionamento a dois. Acho que aqui foi o único ponto que discordei um pouco: eu coloco o casamento como prioridade (como já falei aqui e fui quase linchada, rs), mas não tenho, como os franceses, a “proibição” do acesso das crianças no quarto do casal.
Para terminar, as mulheres francesas são equilibradas! Elas sabem que mães perfeitas não existem e, por isso, não buscam essa perfeição. Elas têm sua vida além da maternidade, buscam sua realização pessoal e profissional, se dedicam às atividades que lhes dão prazer e não deixam que uma área de sobreponha a outra. “E elas não se sentem culpadas por isso porque elas sabem que a culpa não faz bem a ninguém”, comenta Pamela. Para conseguir este equilíbrio, elas se dedicam com afinco ao que estão fazendo: quando estão no trabalho, estão 100% lá. Quando estão com os filhos, estão 100% com os filhos. E assim vivem felizes com a maternidade e não sobrecarregadas por ela!
Eu sou Melina, mas pode me chamar de Mel. Amo escrever, amo meu marido, amo minhas três filhas e, acima de tudo, amo Jesus. Moramos na Pensilvânia, nos EUA, e, sempre que consigo, gosto de falar sobre minhas experiências, aprendizados e desafios seja na maternidade, na vida cristã ou como imigrante.
Saiba mais
A resposta é bem mais macabra do que parece, na verdade é um problema nacional gravíssimo na França.
http://br.rfi.fr/franca/20170301-duas-criancas-sao-mortas-por-dia-pelos-proprios-pais-na-franca
Bem, vamos combinar que educar e dar limites não tem nada a ver com bater (ou espancar como é o caso das notícias…). Dentro do que o livro aborda, continuo concordando com muitos dos aspectos da criação francesa.
Ok. Mas será que essa “fantástica” escritora se questionou se esse tipo de educação/conceito atende as necessidades emocionais e psíquicas das crianças????? Eu acho que não.
Por incrível que pareça e, talvez você TAROKKA desconheça, este não é um problema exclusivo da França. No mundo todo existem pais que, infelizmente, agridem e matam seus filhos. No Brasil isso é muito recorrente, e, provavelmente você já ouviu falar de casos famosos como o caso Nardoni, o caso Ricardo Krause, Cleriano josé da silva, Robson da Silva Ribeiro, Hugo Imaizumi, Marília Cristina Gomes, dentre muitos outros. Portanto, seu argumento é completamente inválido uma vez que, estas atrocidades acontecem em todos os países do mundo e, não apeneas na França.
Estabelecer limites e dar amor, em resumo é o que tenho aprendido. Leio e adapto muitas coisas ao meu cotidiano com meu filho, respeitando características da sua personalidade. Concordo com algumas das coisas ditas na reportagem, inclusive porque sem conhecer a postura das francesas, algumas eu já aplicava em casa porque recebi de uma cearense a educação por exemplo de que se deve comer tudo que está a mesa e não se reclama de comida nenhuma. Meu filho tem as preferências dele, mas aprendeu a comer tudo que é colocado a mesa desde de novinho. Precisa de amor recheado de paciência e firmeza. Nosso diferencial é o calor humano, isso eu não abro mão!
TAROKKA, isso tem nada ver com educação francesa…
Acontece em qualquer lugar, até se vc olha os numeros, acontece mais aqui no Brasil
Não entendi sua posição, tipo so para fala que não concorda posta uma coisa assim? Isso demostra o que ? inveja? imaturidade ?
França não é perfeita, como frances coloquei bastante jeitinho brasileiro na educação do meus filhos e da minha filha, mas tem coisas que não abro mão como respeito mutual, regras, autonomia… Tipo raramente vera frances corrir para levantar criança que caiu, a gente avalia se é grave ou não e se precisa da um carinho, para muitxs parece frio mas isso é uma chave para no futuro lidar com erros, ou frustração… e vale lembrar que a gente não faz isso sem sentir nada, nas primeiras vezes precisamos nos controla para não ir ;)
“Segura teu filho no colo
Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir”
Não li o livro, mas acredito que ele seja o inverso do que eu pratiquei como mãe, assim como a minha abordagem de trabalho na Psicologia. Teoria do apego, disponibilidade afetiva e amor em livre demanda!
Acho que não se está vendendo uma fórmula.! Amor em livre demanda, parece ótimo… Até certo ponto. Parece que a questão fundamental é: As crianças precisam enfrentar a frustração? Como e em que momento? Particularmente admiro o modelo francês que enfatiza a criação de cidadãos. Com direitos, obrigações e restrições, desde cedo. Porque se vc não é rica para ter uma babá, vc vai se sacrificar (E vc possivelmente será uma mulher pq que acho que nunca vi homens reunidos em torno do tema: “paternidade e culpa”. Em resumo, já li, algumas coisas acho interessante, mas a criação com apego as vezes me cheira a uma reinvençāo da maternidade romântica. Com toda a desilusão à reboque.