Às vezes, ser mãe nos faz pensar sobre déficit de atenção na infância. Manuela está numa fase de extrema falta de atenção. É de tirar do sério qualquer um! Eu falo “vai ao banheiro, faz xixi e escova os dentes”. Ela vai, faz xixi e esquece de escovar os dentes. Eu termino de dar uma ordem e ela me pergunta o que era para fazer. Já aconteceu de ela fazer algo e nem perceber que fez. Outro dia que pedi para ela pegar o controle da TV para mim: ela trouxe e depois foi buscar de volta!
Só que essa falta de fazer as coisas que eu mando por esquecimento tem me irritado profundamente. E o pior é que não sei que castigo dar, pois sou a favor de punições coerentes e, neste caso, ainda não achei uma relacionada. Deixe-me explicar: na minha opinião, não adianta deixar a criança sem ver TV porque não quis almoçar, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ela não quis comer? Então, ela não vai comer absolutamente nada até a próxima refeição da rotina.
Ela deixou o quarto dela bagunçado? Então, não fará nada até terminar de arrumar, mesmo que isso implique não fazer um programa em família ou uma atividade que ela goste. Enfim, eu não consigo achar punições educativas neste caso e isso me irrita muito.
Comecei a pensar se poderia ser algo da idade e conversei com algumas profissionais sobre o tema. “Todas as crianças são desatentas, impulsivas e exibem altos níveis de energia, em maior ou menor intensidade. Em determinadas fases do desenvolvimento, alguns comportamentos – desatenção, impulsividade e agitação – são mais esperados do que em outras. Não conseguimos imaginar uma criança de 3 ou 4 anos pensar antes de agir, por exemplo”, comenta a psicóloga Eliziane Rinaldi.
Ela explica que, a partir dos 6 anos, com o início da educação formal, a criança começa a conseguir direcionar e focar sua atenção por mais tempo. A terapeuta infantil Roberta Lima lembra também que as crianças têm um tempo que conseguem ficar focadas, algo que vai aumentando com a idade, e por conta do início do processo de aprendizagem mais intenso (e suas exigências), esta desatenção acaba ficando mais evidente a partir desta faixa etária.
Como este post vai ser extenso e falar de várias coisas, queria pontuar passo a passo. O que as profissionais estão falando até agora? Criança é criança. Elas não têm a mesma capacidade de um adulto de atenção e foco. A partir dos 6 anos esta desatenção fica mais evidente por conta das exigências serem maiores e é também nessa faixa etária que elas vão começar a apresentar uma maior capacidade de concentração.
A psicóloga Eliziane explicou também sobre outra questão que pode afetar a atenção das crianças: os estímulos que são recebidos. “É o que psiquiatra Augusto Cury chama de Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). E este é construído pouco a pouco, ao longo dos anos. Entre as causas da SPA nas crianças está no excesso de estimulação, de brinquedos, de atividades, de informação”, comenta. Os “estímulos eletrônicos” – televisão, computador, tablets – também entram nesta questão.
Uma vez li um artigo em que um professor pedia que os pais não deixassem o seu aluno assistir TV nos dias de aula, pois no processamento de informações que a criança tem durante a noite, as informações da escola perderiam para o conteúdo da tevê. Não sei se há fundamento científico para isso, mas há lógica, rs. O que a SPA afirma é que o estímulo excessivo acaba favorecendo esta falta de atenção das crianças.
Além da própria idade e dos estímulos, há um terceiro aspecto que pode contribuir para esta situação: o fator emocional e ambiental. “Essa questão da atenção é muito influenciada pelo ambiente em que a criança vive assim como pelas situações que ela vivencia. Um ambiente conflituoso, por exemplo, pode desorganizar a mente da criança a ponto de deixa-la desatenta mesmo, ou seja, ‘sem cabeça’ para as coisas”, afirma Roberta. Segundo Eliziane, algo pode estar “roubando” a atenção da criança. Sentimentos de tristeza, preocupação, medos podem estar contribuindo para que ela se mostre desatenta.
As especialistas deram algumas orientações para que os pais lidem com esta situação, ajudando a criança:
– Ser breve e evitar dar várias ordens ao mesmo tempo
– Conseguir a atenção real da criança antes de lhe pedir algo: peça para que a criança olhe para você e, se necessário, que ela repita a ordem dada.
– Manter uma rotina: se necessário, use recursos visuais como um quadro de tarefas para ela lembrar do que deve fazer.
– Converse: entender o que está acontecendo na vida emocional da criança também ajudará na percepção da causa da desatenção.
Sim, por fim, porque TDAH não deve ser a primeira coisa que a gente pensa quando vê uma criança desatenta. “Existe uma tendência muito grande atualmente em se patologizar a infância, isto é, atribuir um caráter patológico a uma agitação normal inerente à energia que uma criança costuma ter”, alerta a terapeuta Roberta Lima. O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é um problema com uma dimensão maior e se caracteriza por três sintomas básicos: desatenção, impulsividade e hiperatividade física e mental, mas para o diagnóstico acontecer, é preciso seguir uma série de critérios e estes sintomas devem estar interferindo fortemente não apenas no cotidiano escolar, mas também social e familiar.
A psicóloga Eliziane ressalta que, no caso do TDAH, estes sintomas não são transitórios, eles são permanentes e afetam atividades escolares, rotineiras e também aquelas que dão prazer à criança, como as brincadeiras. “Só pensaremos em TDAH quando a criança apresentar pelo menos seis dos sintomas descritos a seguir durante pelo menos seis meses”.
• Dificuldade em prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido
• Dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas
• Parece não escutar quando lhe dirigem a palavra
• Não segue instruções e não termina seus deveres escolares
• Dificuldade para organizar tarefas e atividades
• Evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante
• Perde coisas necessárias para tarefas ou atividades
• É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa
• Com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias.
Ela alerta: Um diagnóstico de TDAH só pode ser feito por profissionais (neuropediatras) e isto a partir de 7 anos de idade. A terapeuta Roberta lembra: “procure um profissional de extrema confiança, com boas referências, que faça uma avaliação cuidadosa e criteriosa da criança, pois existe uma forte tendência de se diagnosticar TDAH numa única consulta como também de se medicar a criança de forma muito arbitrária”.
Eu sou Melina, mas pode me chamar de Mel. Amo escrever, amo meu marido, amo minhas três filhas e, acima de tudo, amo Jesus. Moramos na Pensilvânia, nos EUA, e, sempre que consigo, gosto de falar sobre minhas experiências, aprendizados e desafios seja na maternidade, na vida cristã ou como imigrante.
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