“Eu não consigo me controlar”, disse ela, em lágrimas, aos seis anos. O que ela precisava era educação emocional e espiritual.
Estávamos no banheiro, eu a corrigia pela maneira grosseira que falara com o amigo. Ela não aceitou bem a correção. Subiu o tom de voz e, agora, eu precisava lembrar que não se pode gritar com a mãe.
Foram alguns longos minutos de conversa, repreensão, correção. Ela não se acalmava. Então, eu disse que ela precisava ficar calma antes de sair e voltar a brincar com os outros. Caso contrário, ela iria ofender as pessoas e isso não é correto.
Enquanto eu propunha que ela se acalmasse antes de sair do banheiro, ela desabafou chorando: “eu não consigo me controlar!”
Então, eu lembrei o que eu sempre falo aqui: enxergue por trás do comportamento errado da criança!
Ela foi grosseira. Mas, quando fui corrigi-la, a grosseria só agravou. O que, na verdade, era um “me ajuda! Eu não quero ser grosseira, me ajuda!!”. O que ela precisava era educação emocional e espiritual.
Oramos juntas. Respiramos profundamente e com calma. Peguei-a no colo e nos abraçamos. Pedimos a Deus ajuda com a paciência, a mansidão e o domínio-próprio.
Ela se acalmou. Saiu, pediu desculpa ao amigo ainda um pouco triste, mas lembrando que, quando precisar, pode pedir ajuda e não precisa se deixar controlar pelos impulsos e reações ruins. E eu, mais uma vez, lembrei o meu papel nesse processo – difícil, mas necessário- de educação emocional.
Entre 1,5 ano e 3 anos, aproximadamente, a fase conhecida como terrible two deixou muitos pais de cabelo em pé. A criança passou a entender que era um ser diferente dos pais e tentou impor a sua identidade, vontades e desejos, muitas vezes através de cenas reprováveis de birra.
Chegando aos 4 anos, a gama de emoções sentidas pelas crianças aumenta. Agora, a intenção não é mais impor a sua vontade. Afinal, se os pais tiverem feito um bom trabalho na época dos dois anos, a criança já percebeu que suas cenas não mudam as regras e ela não consegue o que quer através dos seus escândalos.
Porém, as cenas não acabaram. O que mudou foi que a causa não é mais mudar o que acontece, mas colocar para fora o que está sentindo por dentro. E nessa hora que a educação emocional é tão importante.
É nessa fase que uma nova estrutura do cérebro amadurece, capacitando a criança a desenvolver maior autocontrole. Somando a evolução fisiológica à instrução dos pais, a criança irá crescer sabendo lidar com suas emoções.
A educação emocional tem como base três passos fundamentais:
– Ajudar a criança a identificar a emoção. A criança precisa saber qual é o nome daquele sentimento que ela está tendo: raiva? tristeza? tédio? frustração? decepção? ansiedade? medo?
São muitas as emoções que podem afetar seu filho, em diversas situações. É essencial que você ajude a nomear até que a criança tenha a capacidade de identificar sozinho. Você pode usar livros diversos (leia como ajudar a criança a lidar com a frustração) em que a criança aprende sobre os sentimentos através da história dos personagens e também jogos.
Ao longo do tempo, esse processo fica mais complexo e a criança começará a entender também quais situações levam àquelas emoções. Assim, conseguirá também se preparar para o sentimento antes mesmo que venha. Isso é lindo! Se todo adulto soubesse fazer isso, seríamos pessoas mais felizes.
Importante: nesse processo, é essencial que a criança saiba que a emoção por si só não é errada. Cada sentimento tem uma razão para existir fisiologicamente: o medo nos protege de ações perigosas, a tristeza nos leva a afastar de situações prejudiciais para nós, a raiva nos prepara para a defesa.
O que pode ser um problema é a falta de capacidade de lidar com a emoção quando ela aparece: deixar ela tomar conta ou ter reações exageradas. Aí vem o segundo passo.
– Censurar reações erradas. Nós nunca devemos censurar a emoção. Não vamos calar o sentimento e dizer que ele não pode acontecer. Todas as emoções são válidas e devem ser acolhidas. O que não fazermos é concordar com as reações negativas.
Gritar, bater, jogar as coisas, ofender etc. Tudo isso é errado e a gente não vai aceitar. Nessa hora, nós comunicamos às crianças claramente que nós entendemos a emoção, mas que a reação não é correta:
“Filho, eu sei que você está com raiva porque eu não deixei que fizesse tal coisa. Porém, a gente não pode jogar as coisas quando está com raiva.”
“Filha, eu já percebi que você está ansiosa para sua aula amanhã, mas não é bom ficar roendo a unha.”
“Filho, eu sei que você ficou triste porque seu brinquedo quebrou, mas não podemos gritar com as pessoas por causa disso.”
– Dar o caminho e mostrar as reações corretas: A gente deve censurar o erro, mas precisamos apontar o caminho certo, né? Lembrando que as crianças são crianças e precisam ser ensinadas sobre as coisas!
“Filho, a gente não pode jogar as coisas. Mas você pode respirar fundo três vezes para se acalmar. Quer pular um pouco no lugar para liberar a energia do corpo? Também pode falar para mim como está se sentindo ou, se preferir, pode ficar um pouco sozinho.”
“Filha, vamos fazer um papel com as horas que faltam para sua aula e você pode ir pintando os quadradinhos? Quer falar sobre o que você está pensando sobre a aula de amanhã?”
“Filho, quer um abraço para se acalmar? Quando você está triste ou com raiva, você pode pedir um abraço. Eu sempre poderei te ajudar!”
As crianças não têm prazer em reagir de maneira inadequada. Elas sabem que os pais não gostam dos gritos ou de que elas batam os pés (se eles deixam isso claro) e querem aprender a reagir de maneira correta.
O exemplo que contei no início do texto deixa claro isso. As crianças estão precisando de ajuda e cada reação exagerada é um grito de socorro.
Portanto, em vez de levar para o lado pessoal e reagir pior que a criança, pense no que e em como pode ensiná-la a reagir melhor. Lembrando, principalmente, que é um aprendizado constante e que não acontece em um piscar de olhos. É preciso repetição!
Além das estratégias múltiplas de educação emocional, nós, pais cristãos, temos a responsabilidade de educar nossos filhos espiritualmente. Precisamos lembrar às nossas crianças que elas têm um caminho para superar suas ações erradas.
Quando minha filha chora, pedindo perdão, dizendo que não conseguiu se controlar com uma reação errada, ela precisa de ajuda. Ela não precisa de sermão, nem de castigo. Ela precisa ser ensinada sobre como crescer.
É um crime nós, pais cristãos, que dizemos conhecer a Bíblia e amar a Deus, privarmos os nossos filhos de conhecerem o poder transformador do Evangelho de Jesus.
O fruto do Espírito não é só para adultos, é para as crianças também. O arrependimento das obras da carne e novo nascimento não é somente para o maior de idade, é para os pequeninos.
Seu filho tem o direito de saber (e você tem o dever de contar para ele) que o homem carnal não consegue mesmo se controlar. Ele é irascível, ele grita, ele age de maneira errada porque não consegue se submeter à vontade de Deus. A carne é corrupta e mau e, quando ela está no controle, não conseguimos fazer o bem que queremos.
Porém, há redenção em Cristo Jesus. Há perdão e purificação dos nossos pecados quando há arrependimento. E há um caminho de santificação diário que todos nós podemos percorrer.
O fruto do Espírito (que também é domínio-próprio) está ao alcance dos nossos filhos. E muitas vezes eles sofrem por suas ações erradas (primeiro pela própria ação, depois pela culpa e, por fim, pelo castigo dos pais) porque nunca foram apresentados a essa verdade maravilhosa.
Essa semana houve dois episódios de excesso em que a Ana Júlia expressou arrependimento profundo por ter reagido de maneira errada. Mais tarde, conversando com ela, lembrei que quando ela não consegue se controlar, pode e deve pedir ajuda ao Espírito Santo. Então ela respondeu que, sempre que isso acontece, ora pedindo perdão e pedindo a ajuda a Deus.
Foi então que dei um exemplo bem prático. No final de semana, um pernilongo mordeu a Ana Júlia e deixou o rosto dela bem inchado. Usei essa circunstância para ensinar:
– Filha, o pernilongo te mordeu e eu passei pomada depois, certo? Mas ele já mordeu. Já tem marquinha. Ainda que eu passe a pomadinha e te dê remédio, é para consertar algo que já aconteceu.
Agora, a gente pode evitar essa situação, é só colocar um repelente eletrônico na tomada da próxima vez, certo?
Quando você ora depois que já aconteceu, é maravilhoso. Muito importante. Muito útil e faz efeito. Mas o erro já aconteceu, você já ficou triste. Pode ser que tenha magoado alguém ou mesmo tenha recebido alguma consequência pelo seu ato errado.
Porém, quando oramos antes – logo cedo pela manhã – pedindo a ajuda do Espírito Santo para não errar naquele dia, estamos usando o repelente eletrônico. Estamos prevenindo e buscando nos preparar para qualquer situação que apareça.
Pode ser um exemplo simples, mas foi algo que fez os olhos dela brilharem de entendimento.
Ensine seu filho a lidar com as emoções, mas principalmente, ajude-o a colocá-las aos pés da cruz debaixo do controle do Espírito Santo de Deus! Isso é educação emocional e espiritual
Como ajudar meu filho a lidar com a frustração: um pequeno guia de educação emocional
Eu sou Melina, mas pode me chamar de Mel. Amo escrever, amo meu marido, amo minhas três filhas e, acima de tudo, amo Jesus. Moramos na Pensilvânia, nos EUA, e, sempre que consigo, gosto de falar sobre minhas experiências, aprendizados e desafios seja na maternidade, na vida cristã ou como imigrante.
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O melhor conteúdo que eu já encontrei por aqui!!!!
Está me ajudando muito, e vejo que estou longe de ser um exemplo de mãe cristã, mas, ao mesmo tempo, me abriu os olhos e eu sou muito grata por seu tempo e dedicação por aqui! Por favor, não pare! Tenho uma filha de 14 e uma de 4 anos… Que fases, meu Deus! Sempre achei a parte mais difícil educar, porém, complicou bastante, kkkkkk. Mas com a ajuda de Deus e suas dicas,eu vou aprender. Gratidão por sua vida e sua família, grande beijo, Deus abençoe vcs!
Muito interessante mesmo.
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Obrigada!
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