Então chega a novidade: “você vai ganhar um irmãozinho“. Em maior ou menor proporção, a notícia afeta, sim, os sentimentos dos pequenos e, muitas vezes, eles não conseguem expressar de maneira que a gente entenda que de alguma forma estão abalados com a situação e mudança. Em alguns casos, a rejeição é grande e imediata. Em outros, a criança pode reagir de maneira oposta: “adorando” o bebê como uma forma de ter a aceitação dos pais. Mas em todos os casos, há sim um ciúme com a chegada do irmão.
Mas a boa notícia é que podemos agir de algumas maneiras para minimizar o ciúme com a chegada do irmão e tornar essa situação menos traumática para o mais velho. As dicas abaixo são baseadas em uma entrevista que fiz com a psicóloga Eliziane Rinaldi e também na minha experiência com a chegada da Ana Júlia, quando a Manuela tinha 5 anos.
A PRIMEIRA e mais importante coisa é você saber que o segundo filho não é um peso para ninguém. Quando a gente trata o bebê como “algo ruim” para o filho mais velho, invariavelmente, ele vai perceber esse sentimento e vai absorver isso.
O caçula é BÊNÇÃO para toda a família. Ele completa a vida de todo mundo, inclusive do irmão! Seja consciente disso e ensine para seu filho.
Seu filho não tem a responsabilidade de decidir se ele quer ou não um irmão. Quem decide isso são os pais. Não jogue esse “peso” sobre ele, mesmo porque crianças são volúveis: uma hora querem um irmãozinho; outra hora, um cachorro; depois, um pirulito.
A criança não entende o que significa ter um bebê em casa e, depois que ele nascer e ela se sentir de alguma forma incomodada com o irmão, o que não precisa é dos pais falando todo o momento: “você disse que queria um irmãozinho”. É muita responsabilidade para pouca idade!
Entenda que a criança pode não reagir super bem à notícia da gravidez. Ou reagir muito bem no início e depois regredir. Assim, é importante explicar o máximo possível – de acordo com a idade do mais velho – o que a gravidez representa e dar tempo para que ela possa assimilar a notícia e expressar seus sentimentos. A psicóloga comentou que “o vínculo entre os irmãos é uma construção e isto precisa ser respeitado e aceito.”
Mas lembre-o que esse bebê que chega é parte da nossa família.
Uma coisa que funcionou muito com a Manuela foi dar a liberdade de ela participar de algumas decisões antes da Ana chegar. Pro exemplo: escolher peças do enxoval, ajudar a arrumar o quarto, levar em uma ecografia (de preferência quando o bebê já parece um bebê de verdade, rs) são oportunidades de a criança mais velha participar ativamente da chegada do irmão. Aqui em casa, a Manuela até ajudou a escolher o nome e fez o quadrinho da porta da maternidade.
Mas, para isso, é importante lembrar do tópico anterior: tudo no tempo e no desejo da criança. Não force a participação dela, se não for de sua vontade.
Nesse momento dos preparativos (e também depois do nascimento), é comum que a criança sinta que toda a atenção está sendo para o irmãozinho. Então, aproveite a oportunidade para relembrar como foi com ela.
Por exemplo, estão arrumando o quarto? Conte como foi que você arrumou o quarto dela antes do nascimento. Como escolheu o nome, as cores, mostre fotos e outras lembranças para o mais velho entenda que recebeu essa mesma atenção e cuidado.
Não é hora de mudar a criança da escola, tirar a chupeta, começar o desfralde etc. É importante manter a rotina o máximo possível. Quanto mais mudanças, mais dificuldade de assimilar. Lembre que o mais velho já está passando por uma mudança significativa que é a chegada do irmão.
Por isso, veja maneiras para manter também algumas rotinas diárias com os pais que sempre fazem. Por exemplo, é sempre o pai que ajuda a fazer a lição e a mãe que dá banho? Tentem manter essa dinâmica mesmo depois que o bebê nascer. É sempre a mãe que leva para a aula? Mesmo que ainda não possa dirigir, ela pode acompanhar a pessoa que for levar a criança à escola.
Sei que é cansativo e difícil, mas é um esforço que precisamos fazer. Quando a Ana Júlia tinha sete dias de vida, teve apresentação de Dia das Mães na escola da Manuela. Com dor da cesárea, planejando mamadas e morrendo de sono, eu fui (e sem a irmã) e foi a maior alegria da vida dela!
Sabe aquela história de “vai ajudar a cuidar”? Não é verdade! O irmão mais velho não tem a responsabilidade de cuidar do mais novo.
Então, não exija isso dele. Mas, se ele quiser, permita. Eu sempre busquei perguntar para a Manuela se ela queria ajudar com algo naquele momento e falava o que ela podia fazer. Por exemplo, na idade dela, ela podia jogar a fralda fora, segurar a pomada, pentear o cabelo da irmã depois do banho, ajudar a escolher a roupa (entre peças pré-selecionadas, rs) e outras coisinhas assim.
O importante é que seja: você QUER ajudar? E não, VENHA me ajudar! Se o irmãozinho só der trabalho o tempo todo, naturalmente, a criança vai desenvolver certa rejeição por ele, certo?
Ainda pensando no “irmãozinho que dá trabalho”, meça as suas palavras em frente ao mais velho. Evite demonstrar que seu cansaço e seu estresse, por exemplo, estão relacionado ao irmãozinho.
É importante, sim, que a criança entenda que a mãe está dormindo menos, que precisa descansar e tudo mais. Mas, no início, eu estava tão cansada com a Ana Júlia, amamentação e falta de rotina, que explodia por pouca coisa. Um dia, a Manuela falou: “a Ana deixa todo mundo bravo”. Não preciso mais comentar nada, né?
Comparação é um terreno perigoso. Não compare o filho mais velho com o mais novo, esperando melhorar o comportamento. Por exemplo: “Pare de chorar. Sua irmã está quietinha” ou “Coma sua comida porque seu irmão está comendo bonitinho”. Acho que isso é bem óbvio, né?
Mas não vá para o outro extremo, de diminuir o bebê. Digo isso porque percebi que eu estava fazendo, na tentativa de elogiar a Manuela. “Quando você tinha a idade da Ana, você era mais obediente do que ela é” foi apenas uma das frases que eu já falei para a mais velha nesse sentido. Mas isso também não é benéfico, então, não faça!
“Sentimentos de ambivalência (amor e raiva) são esperados. Conversar com a criança sobre eles e dar vazão para a expressão deles é muito importante”, explica a psicóloga. A crise da Manuela começou no chá de bebê e ela dizia, chorando, “eu queria estar feliz, mas eu não consigo”. Depois que a Ana nasceu, algumas vezes ela falou: “às vezes eu gosto dela e às vezes eu não gosto”. E tudo isso a fazia se sentir mal.
Nosso papel como pais não é reprimir e brigar, no estilo “não fale isso da sua irmã”. Mas ajudar a identificar, explicando o que é ciúme, por que ela se sente assim e, principalmente, aproveitar a oportunidade para conversar e dizer que ela é querida, amada, que o irmão não vai tomar o seu lugar etc.
Isso também se aplica a alguns comportamentos repreensíveis do mais velho. Atitudes de desobediência podem acontecer e é importante os pais analisarem se está ou não relacionado ao ciúme e a intenção de chamar a atenção.
Só então, a disciplina deve acontecer, levando em consideração o que realmente está por trás de tal atitude. Na maioria das vezes, as crianças precisam de mais diálogo e carinho do que repreensão.
Momentos sozinhos com um dos filhos são necessários (principalmente para as mães). Nesse quesito acho importante citar três aspectos diferentes:
Evite momentos com o bebê em que o mais velho não possa participar, pelo menos nesse início pós-parto. Se você conseguir, envolva-o até mesmo na amamentação. Permita que a criança fique próxima, deitada no seu colo ou sentada do seu lado.
Explique quando não for possível. Comunique-se com seu filho. Teve uma época que a Ana Júlia se distraía muito para mamar e a Manuela não podia mais ficar perto. Eu precisei explica e, nesses momentos, o pai precisava passar um tempo de qualidade com a mais velha para diminuir essa separação.
Promova momentos em que você tenha tempo exclusivo e de qualidade. Saía para o parquinho ou para o cinema com o filho mais velho. Se ainda não der, use as sonecas do bebê para brincar com o que ele quiser.
Uma coisa bem prática que vai ajudar é permitir que o filho mais velho mexa nas coisas do mais novo. Quer brincar com o móbile? Deitar no berço? Dobrar as roupas e “arrumar” o guarda-roupa? Deixe! Não supervalorize as coisinhas do bebê. Isso também irá ajudar.
Sei que é muito cansativo pensar em tudo isso principalmente no pós-parto, mas faz parte da vida de quem tem dois filhos. O que eu posso te dizer é que é impressionante como a gente consegue dar conta!
Outra coisa que eu queria comentar é que muita gente acha que o mais velho precisa aprender que as coisas mudaram e que o bebê demanda mais atenção. O filho mais velho ainda é uma criança que não sabe o que é amar seu irmão mais novo. Ele precisa do amor dos pais como antes e precisa de ajuda para aceitar o bebê na família e no seu coração.
Se queremos que eles tenham um relacionamento saudável e, principalmente, queremos que nosso filho mais velho continue sendo emocionalmente saudável e não exploda em comportamentos inadequados, é nosso papel promover atitudes para minimizar as consequências dessa mudança em sua vida.
Eu sou Melina, mas pode me chamar de Mel. Moro em Curitiba (PR), sou jornalista, empresária e mãe de duas meninas maravilhosas: Manuela, 12 anos, e Ana Júlia, 7 anos. Um dos meus maiores alvos é tornar a vida mais simples e leve todos os dias.
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