Para Mães e Pais muito colo faz mal

Muito colo faz mal?

29 de março de 2019

Você já ouviu alguém dizer que muito colo faz mal? Ou que o bebê ficará mal-acostumado e mimado? Querendo acertar com seus filhos, muitas mães se sentem confusas se existe alguma quantidade que pode ser considerada “colo demais”.

Participei de uma roda de conversa incrível promovida pela Novalgina, chamada “Poder do colo”. No evento, estavam duas profissionais que me deixaram de queixo caído: a psicanalista Vera Iaconelli e a pediatra Florência Fuks. Com base em estudos científicos e na própria experiência, elas falaram sobre o tema com muita propriedade.

O que significa o colo, afinal?

O primeiro aspecto importante é entender que o colo não são apenas os braços ao redor do corpo de alguém. Colo significa acolhimento. Dizer que muito colo faz mal é como dizer que muito acolhimento faz mal!

Então, quando bebê, o colo é naturalmente o espaço físico em que ele fica próximo a outro ser humano, no contato pele com pele, ouvindo o coração do adulto, sentindo o calor corporal do outro e lembrando da sua experiência lá no útero (que é o primeiro colo).

Com o passar do tempo, à medida que a criança cresce, o colo toma outras perspectivas: é o olhar no olho, a atenção despendida, o tom de voz amoroso (sabe aquela vozinha bem característica com que a gente fala com os bebês? Então, isso também é colo), o toque carinhoso… Enfim, atitudes que transmitem afeto – a gente adulto já sabe bem aquilo que nos significa “colo” certo?

O que a ciência tem a dizer?

Primeiramente, a psicanalista Vera Iaconelli citou como considera uma “bizarrice da pós-modernidade” a ciência precisar explicar o benefício de algo tão instintivo e natural. O colo é colo desde que o homem é homem. De repente, começou-se a problematizar algo tão simples e foi necessário a ciência intervir para resgatar o que é óbvio.

Estudos que já são realizados há décadas (foram citados René Spitz e Donald Winnicott) explicam a importância do abraço, colo, toque para a construção da parte psíquica da criança. Eles demonstram também que a falta de afeto é tão nociva (e pode ser até fatal) quanto a falta de alimento, por exemplo.

Colo nos primeiros meses do bebê

Nos primeiros meses do bebê, o colo é essencial. Primeiro, porque ele ainda não tem noção do próprio corpo após sair do útero. Ele precisa do toque físico para se compreender e estruturar. O colo promove uma sensação de segurança, pois remete ao ambiente já conhecido do útero.

Além disso, já se sabe que o bebê consegue enxergar melhor na distância que equivale, em média, a distância do seu rosto aos olhos do adulto quando está deitado em seus braços (aquela distância entre o seio e os olhos da mãe na amamentação).

De 0 a 2 anos

Nos primeiros dois anos de vida, receber colo, toque afetivo, olhar de atenção, carinho ajuda a criança a se organizar física e psiquicamente. E nessa fase, na maior parte do tempo o colo ainda é bastante físico. Mas obviamente o “tempo nos braços do pai e da mãe” vai diminuindo gradativamente – e naturalmente.

A pediatra Florência comentou sobre a preocupação de “tirar a criança do colo o quanto antes”. Ela explicou que até os três meses, o bebê e a mãe precisam desse colo. Os momentos de afastamento natural vão acontecer, então não é preciso se preocupar: a mãe não vai tomar banho com o filho no colo, né? Então, essa “saída do colo” é natural.

A partir dos três meses, ela indica que as mães passem gradativamente a ter esses momentos em que estão longe do bebê. E isso é benéfico para a mãe, obviamente, mas também para o bebê. Esses momentos eventuais de ausência física dos pais irá ajudar no seu desenvolvimento físico e psíquico.

Colo mais forte que a dor

Duas coisas muito especiais foram faladas no evento acerca da relação colo x dor. A primeira é que o colo, num momento de choro ou sofrimento – seja do bebê ou de nós, adultos – significa: “eu não posso tirar a sua dor, mas vou estar contigo durante a sua dor”.

O segundo aspecto foi acerca do poder do colo amenizar a dor física, na hora de uma doença, por exemplo. A pediatra Florência explicou que a resposta sensorial tátil – ou seja, aquilo que a gente sente na pele – é mais rápida do que a sensação de dor. O toque que você sente chega mais rápido no cérebro do que a sensação de dor. E quando o cérebro recebe várias informações, a primeira é mais forte e as demais são mais fracas. Ou seja, o colo ameniza a dor!

E foi, então, que a pediatra comentou sobre como é importante dar colo na hora da cólica. Ela afirmou que nem sempre – aliás, quase nunca – a cólica é sobre dor de barriga.

Sabe aquele choro que vem sempre no final do dia? Seria gases com hora marcada? Não! É um bebê que está “desabafando” todo o cansaço e estresse de viver por algumas horas nesse mundo novo.

Nessa hora, o colo diz: “estou aqui com você nesse momento difícil. A vida é dura mesmo, mas você vai conseguir lidar com isso. E eu estarei aqui com você”.  É a primeira lição de resiliência diante das dificuldades da vida.

Algo que me impressionou (para o bem) foi a especialista afirmar que a última coisa que um bebê precisa nesse momento é de medicação e que o nosso objetivo não deve ser calar o choro, mas estar com o filho para passar por ele.

Mas não é manha? O bebê não vai ficar mal acostumado com o colo?

A ciência explica que o cérebro de um bebê de até três meses não tem a capacidade de entender a relação causa e efeito. Ou seja, ele não consegue pensar “se eu choro, ela me dá colo”.

Ele não chora com o objetivo de você pegá-lo no colo. Ele pára de chorar no colo porque é onde se sente aconchegado e acolhido. Entende?

Colo demais faz mal?

As especialistas explicaram que não existe isso de “colo demais”, não existe uma quantidade. Se a prática de dar colo estiver sendo prejudicial para a criança, isso vai ser percebido nos sintomas.

Elas deram o exemplo de uma criança que não conseguia andar e era porque os pais só carregavam no colo o tempo todo. Quando eles pararam, ela passou a se desenvolver.

É necessário que os pais saibam deixar as crianças crescerem e enfrentarem as “boas frustrações” da vida para desenvolverem habilidades socioemocionais importantes. Porém, o colo – seja nos braços, seja no olhar, no toque, na palavra afetuosa – sempre tem que estar presente como suporte emocional.

O colo muda?

Sim, com o crescimento do ser humano, o colo pode ser diferente. O que não muda é que todo ser humano precisa de colo. Olhe para as atitudes de cada fase da vida e se pergunte honestamente: muito colo faz mal?

0 a 2 anos: Pegar afetivamente no colo, olhar, ouvir, falar, acariciar ajuda o indivíduo a se organizar física e psiquicamente.

2 a 4 anos: É importante avaliar quando há a necessidade de o colo efetivo em momentos de tristeza e dor, mas é preciso dar autonomia para o indivíduo descobrir o mundo por si só.

4 a 10 anos: Não é mais necessário colocar no colo o tempo todo, mas é importante olhar, ouvir, abraçar, conversar e mostrar empatia.

11 a 16 anos: Conversar é o mais importante. A palavra tem grande poder sobre o adolescente.

16 a 21 anos: Jovens podem ser mais avessos ao toque. Conversar por telefone e por mensagem já têm grande efeito.

Vida adulta: Conversar de maneira empática e o toque respeitoso de carinho podem significar colo ao indivíduo.

 

 

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Comentários

  1. Daiane disse:

    Que lindo !!!

  2. sANDRA disse:

    Como é gostoso dar colo para meu bebezinho e foi interessante descobrir que dar colo vai bem além, é o primeiro contato de carinho entre pais e filho.

  3. Perfeito! Esse colo de mãe cura qualquer coisa em qualquer idade!

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Quem Sou

Sou Melina Pockrandt Robaina, filha de Deus, jornalista e mãe da Manuela (6 anos) e da Ana Júlia (1 ano)

Eu sou Melina, mas pode me chamar de Mel. Amo escrever, amo meu marido, amo minhas três filhas e, acima de tudo, amo Jesus. Moramos na Pensilvânia, nos EUA, e, sempre que consigo, gosto de falar sobre minhas experiências, aprendizados e desafios seja na maternidade, na vida cristã ou como imigrante.

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