Para Mães e Pais perda de audição na infância

{Depoimento} Perda de audição na infância

8 de setembro de 2015

A Gabriela Gama, do blog Aprendizados de Mãe, foi uma das amizades que a vida digital me trouxe. Entre muitas conversas e leituras dos seus posts, fiquei sabendo que o pequeno Pedro teve perda de audição na infância e precisou fazer uma cirurgia, tudo isso com menos de três anos.

Achei muito interessante a maneira como ela descobriu e até fiquei assustada por ver como o problema pode passar despercebido. Por isso, pedi para ela contar a experiência aqui no blog. Obrigada por topar, Gabi!

perda de audição na infância

Pedro nasceu de 37 semanas com desconforto respiratório adaptativo e por isso ficou 36 horas na UTI.  Naquele momento eu não fazia ideia de quantas outras dificuldades e sustos ainda teríamos que enfrentar ao longo da vida. Foram 6 meses em casa, cuidando exclusivamente dele, um tempo que não volta mais, mas que jamais será esquecido.

Passamos juntos pela mamadeira, pelas noites sem dormir, pela relactação e aos quatro meses de vida passamos pela bronquiolite que o levou à primeira otite média aguda. 10 dias de antibiótico e 100% de recuperação. Ao longo do tempo, Pedro não teve muitas doencinhas típicas de crianças e as novas otites agudas foram aparecendo depois de um ano de idade.

Eu sempre fui uma mãe tranquila em relação a sono, dente, engatinhar, andar e falar. Enquanto presenciava aquelas mães contando vantagem sobre o que seu filho fazia melhor que o amigo e o quanto ele era desenvolvido, pensava no privilégio do Pedro em poder fazer as coisas no tempo dele.

Pedro sempre foi do tipo tranquilo pra tudo. Demorou para sentar, engatinhou com quase 1 ano e andou com 1 ano e dois meses. Imaginem o quanto não ouvi por isso. Também tinham aquelas pessoas que diziam que ele certamente teria se desenvolvido mais rápido se tivesse ido para a escolinha mais cedo. Nenhum argumento me fez coloca-lo na escola antes dos dois anos, eu queria que ele estivesse um pouco mais independente.

As aulas começaram e o Pedro só falava “mamãe”, o resto era alguma coisa incompreensível até mesmo pra mim. Dos outros 15 coleguinhas de classe, apenas dois ou três falavam bastante e formavam frases. Foi quando me senti tranquila em relação ao seu desenvolvimento.

Algumas semanas depois, comecei a perceber que tinha algo diferente no desenvolvimento do Pedro. Mesmo indo para a escola, pouco falava e pouco se desenvolvia se comparado a outras crianças. Lembro que na primeira reunião de pais, recebemos uma ficha sobre o comportamento dele no primeiro bimestre.

Lá dizia: Pedro é um menino muito tranquilo e bonzinho. Faz suas atividades com satisfação e repete as ações feitas pelos amiguinhos. Adora observar as atividades e geralmente brinca sozinho.

perda de audição na infância

Neste momento, cheguei a pensar que meu filho tivesse o espectro do autismo e conversei sobre isso com a pediatra, que me tranquilizou dizendo que embora ele fosse bastante introspectivo, não tinha características de autismo.

Fui para casa um tanto incomodada com aquele desenvolvimento lento do Pedro. Ele já tinha 2 anos e 3 meses e não falava quase nada, além de todo o resto já citado.

Dias depois, Pedro teve mais uma otite, que foi tratada e que se resolveu parcialmente, mas teve outras duas na sequência. Foram 3 num período de 70 dias. A pediatra me disse que precisaríamos a colaboração de um otorrino, já que as infecções tornaram-se frequentes e os antibióticos habituais não resolviam a questão. Do consultório mesmo, ligamos para o otorrino que já havia operado meu marido e cuidado de mim enquanto grávida.

Dois dias depois estávamos lá, eu, Pedro e o otorrino. Enquanto o médico conversava, o Pedro desenhava sem se distrair por nada. Nenhum barulho tirava a sua concentração. Eu costumava dizer que ele tinha hiper foco.

1 hora de conversa, perguntas, respostas, dúvidas e uma otoscopia, descobrimos que o Pedro estava com otite média secretora. Aquela que não dói, não dá febre, mas que impede a boa audição, já que o ouvido acumula líquido atrás do tímpano.

Iniciamos um tratamento para melhorar essa secreção e assim que ele apresentou melhoras, fizemos um raio X para verificar a adenoide e também uma impedanciometria (exame que mede as vibrações do tímpano), neste segundo, descobrimos que ele tinha perda auditiva: ouvia pouco mais de 50% num dos ouvidos e aproximadamente 80% no outro.  Como costumamos dizer: só fala quem ouve!

Este exame respondia quase todas as perguntas que eu me fazia em silencio diariamente. Mais uma consulta para falar do resultado dos exames e também da indicação cirúrgica. Colocar os tubinhos de ventilação no tímpano era a única garantia de que o Pedro não acumularia mais liquido atrás do tímpano, não teria mais as otites de repetição e que muito provavelmente voltaria a ouvir como uma pessoa normal.

Lembro que no dia da cirurgia, levamos o iPad para distraí-lo e como sempre, estava no volume máximo. Assim que acordou depois da intervenção, ligou o iPad e imediatamente abaixou o volume. Este era o primeiro indicativo de que ele de fato havia recuperado a audição.

perda de audição na infância

Depois de 1 semana de operado, ele parecia outro menino, alegre, extrovertido, falante (ele passou a falar praticamente tudo em uma semana) e mais à vontade com o mundo ao seu redor. Voltou para a escola completamente diferente de quando saiu para operar.

Já se passaram 3 meses e agora percebemos que com todos os estímulos sonoros ecoando na sua cabecinha ao mesmo tempo, ele precisa resignificar os sons e organizar melhor seu entendimento e sua fala, por isso procuramos um centro de intervenção cognitiva, onde ele será avaliado por uma neuropsicóloga e uma fono especializada em crianças com perdas auditivas temporárias. Esta foi uma decisão que tomamos juntos, quando percebemos que mesmo com o enorme ganho na fala e no seu desenvolvimento, ainda faltava algo a se resolver.

Perda de audição na infância: O que eu aprendi com isso tudo?

– Que continuo acreditando no tempo de cada criança, mas um olhar especial àquilo que nos deixa desconfortável é sempre bem vindo e pode trazer inúmeros benefícios.

– O pediatra é o melhor profissional para acompanhar nossos filhos, mesmo quando é preciso intervir com outro especialista.

– Intuição de pai e mãe devem ser sempre considerados, mas que não podem ser confundidos com a pressa alheia de que seu filho se desenvolva rapidamente.

– Sempre que for necessário, procuraremos especialistas, pois eles são os mais indicados a nos dar um diagnóstico.

– Que filho a gente ama de qualquer jeito e com qualquer tipo de restrição, mas que a gente morre de medo de vê-los sofrer por qualquer tipo de deficiência que tenham ou que possam vir a ter.

– Que sempre teremos amigos achando exagero tudo isso, mas teremos tantos outros no apoiando e acreditando no nosso sexto sentido mega aguçado de mãe.

Toda criança tem otite e amigdalite, pelo menos até os 4 anos de idade, nem todas causam algum prejuízo no desenvolvimento delas. Mas deve-se considerar uma consulta com um especialista, neste caso otorrinolaringologista, quando o problema for recorrente e difícil de ser tratado.

Este vídeo foi feito 40 dias antes da cirurgia aproximadamente.

Este outro, 40 dias depois.

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Comentários

  1. Rachel disse:

    Adorei o seu relato.
    Meu filho de 2 anos e 7 meses foi detectado liquído no ouvido apesar dele nunca ter tido uma infecção no ouvido e nenhuma outra otite , mas ele fala muito pouco mamãe e papai e somente algumas outras palavras incompletas.
    Ele entrou na escolinha com 1 ano e 3 meses e após 4 meses na escolinha não teve nenhum progresso na fala.
    O médico mandou esperar 3 meses que pode ser eliminado o liquído sozinho senão vai fazer essa operação nele.
    Puder me mandar alguma mensagem ou dicas sobre o assunto irei amar pois o que eu estou sentindo vc sabe pois sentiu com o seu filho.
    Desde já te agradeço muito do fundo do meu coração.

  2. Juliana Silva disse:

    Gostaria de saber se mesmo sem ouvir ele dava tchau, apontava.. Essas coisas que criaças geralmente já conseguem fazer a partir de um ano. Ele não ouvia ou ouvia pouco? Obrigada

  3. Emanuela Franco disse:

    Oi, me diga como está seu filho hoje? Ele fala tudo? Minha filha tem 3 anos e meio e ainda não operou. Ando angustiada na espera pela cirurgia.

  4. Marilene disse:

    Oi tudo bem? Tenho um filho que talvez esteja passando pela mesma situação que o seu passou, o meu tem 2 anos e sete meses tem atraso na fala e também não interage bem com os amiguinhos na escola, ele ja teve três otites.
    gostaria se saber se o seu filho colocava sempre a mão no ouvido, se ele se encomodava com muito barulho na escola ou medo do liquidificador?
    Se você poder responder te agradeço, não vejo a hora do meu pequeno começar falar.

  5. Gabriela Gama disse:

    Olá, meu filho fazia tudo isso e até hoje faz terapia, 3 anos e meio depois da cirurgia! Estamos caminhando bem, mas os estragos não foram pequenos :/

  6. Gabriela Gama disse:

    Olá, hoje ele fala, mas tem alterações no processamento auditivo central e continua fazendo fono. Tem alguns atrasos ainda mas nada tão preocupante!

  7. Gabriela Gama disse:

    Olá, ele não dava tchau e muito menos interagia. Por tempos, achamos que ele tivesse autismo, mas foi descartado nas avaliações.

  8. Naiara Silva disse:

    Bom dia!!Minha filha está com 6 meses descobri que ela tem perda aiditiva pelo exame Bera, fiz outro exame que detector essa secreção no ouvido ela nao sente nenhum tipo de dor,o otorrino ja me indicou usar aparelho, vc acha que devo procurar uma segunda opinião!!

  9. Naiara Silva disse:

    Bom dia!!Minha filha está com 6 meses descobri que ela tem perda aiditiva pelo exame Bera, fiz outro exame que detector essa secreção no ouvido ela nao sente nenhum tipo de dor,o otorrino ja me indicou usar aparelho, vc acha que devo procurar uma segunda opinião!!obrigada

  10. SIMONE CRISTINA DA SILVA SALDANHA disse:

    Gabriela, que relato incrível! Me identifiquei muito, muito mesmo. Meu filho tem 2,2 meses e nunca apontou, não dá tchau, e nem sempre responde aos estímulos sonoros. ( Quando chamamos) e tem muita dificuldade para interagir com as crianças da mesma idade. Está em tratamento com fono e tô desde 1 ano e 10 meses com grandes progressos e está no segundo tratamento medicamentoso para otite média Secretora ( impedânciometria deu tipo B),. Na próxima semana saberei se precisará fazer a cirurgia pra por o tubo de ventilação.. Ele fala poucas coisas compreensíveis, mas já são bem mais compreensíveis do que outrora. A neurologista ainda não descartou o autismo, apesar de as terapeutas não acharem que ele integra totalmente o transtorno. A fono me indicou o SENA para tratar o processamento auditivo ( com essa idade, as terapias convencionais não são indicadas) e iniciaremos com 2 anos e meio. Até lá, já terá feito a cirurgia, caso necessário. Você já ouviu falar no SENA? Estou apostando muito nisso.. Ele fala muito parecido com o seu pequeno antes da cirurgia.

  11. Maraisa back disse:

    Olá meninas, hoje mesmo eu marquei uma consulta com a Fono, meu bebê tem 1 ano e 8 meses e não fala praticamente nada… Nossa corrida com a otite iniciou em maio de 2017 uma semana antes do primeiro aninho dele, desde então tivemos inúmeras otites de repetição, até que fomos encaminhado para o otorrino, que por sua vez fez vários tratamentos, mas sem solução, foi quando nos falaram nos tubos de ventilação. Após isso busquei outra opinião, pois eu achava muito cedo para o meu bebê ser submetido a uma cirurgia. Pois bem, não teve jeito no dia 19/09/2018 foram colocados os tubos de ventilação, retirada das amígdalas e adenoide, foi um pós cirúrgico muito difícil, muito mesmo… Mas ele foi melhorando em 10 dias já não babava mais, porém em novembro fomos surpreendidos com o ouvido vazando novamente, quando retornamos ao otorrino, não tivemos uma explicação plausível para tal episódio e nos foi cobrado a não molhar de jeito nenhum o ouvido dele, gente eu mal dou banho no meu filho, para evitar a correr qqr risco… e em janeiro tivemos mais uma infecção com o ouvido vazando, entramos novamente com o antibiótico. Agora meu bebê está com 1 ano e 8 meses e praticamente não fala nada, ele atende a chamados, responde quando solicitamos que ele tenha uma ação ( como pegar a mamadeira, o chinelo etc).
    Mas percebo que ele tem muita vontade de se comunicar e não consegue, por esse motivo estou levando ele na fono.
    Os carretéis estão a 4 meses e meio no ouvido e até o momento não cairam.

  12. MARY VANIA PEREIRA DOS SANTOS disse:

    Me chamo Mary meu filho tem 4 anos teve várias vezes otite esta fazendo tratamento de fono já fez a cirurgia de adenoide e amigdalas , mas não fala quase nada. Fomos ate no Neuro pra saber se era algo no cérebro. Enfim já levei em vários médicos e falaram do tubo de ventilação , mas o medico do Convenio diz que não é necessário , Eu não sei muito sobre essa cirurgia , mas gostaria de trocar informações se alguém puder me ajudar . Agradeço.

  13. Elaine Ancini dos santos disse:

    Passei por aqui, justamente porque meu filho c 1 ano e 8 meses está com atraso na fala, desenvolveu todas as habilidades p idade, joga bola, corre, pila, sobe não para, sorri muito brincando com as pessoas adora beijos abraços e cócegas. Porém percebemos que já não presta atenção quando estamos falando com ele, quando chamamos pelo nome, ou solicitamos sua atenção, está desatento, cheguei a pensar no autismo, mas não apresentou as características além da questão verbal, fala tudo balbuciando, se assusta com alguns son alto e escuta barulhos, levamos no otorrino e fono, fizemos apenas 2 exames de audição simples e o teste da orelhinhas, deu alteração e agora o médico pediu o exame Bera. Ficamos chocados porque como pode uma criança ouvir alguns sons e não ouvir algumas palavras?
    As vezes chamamos ele por várias vezes, e quando se aproximamos ele vem sorrindo feliz.
    Estou muito confusa.

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Quem Sou

Sou Melina Pockrandt Robaina, filha de Deus, jornalista e mãe da Manuela (6 anos) e da Ana Júlia (1 ano)

Eu sou Melina, mas pode me chamar de Mel. Amo escrever, amo meu marido, amo minhas três filhas e, acima de tudo, amo Jesus. Moramos na Pensilvânia, nos EUA, e, sempre que consigo, gosto de falar sobre minhas experiências, aprendizados e desafios seja na maternidade, na vida cristã ou como imigrante.

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